quinta-feira, 28 de junho de 2012

O CAIPIRA



As festas juninas refletem também a maneira que o meio urbano assimila o homem do campo, isto é, como as pessoas da cidade pensam ser o meio rural e as características daqueles que vivem no campo.

Muitas vezes, a representação desses valores demonstra muitos equívocos e preconceitos. Quem disse que o caipira usa roupas remendadas para ir à festa? De onde vem a idéia de que o matuto, quando sai a passeio, usa chapéu de palha e ainda por cima todo desfiado? De onde vem o conceito de que aquele que mora no campo fala errado?

Essa imagem carregada de contradições e preconceitos teve origem no século XIX, quando o desenvolvimento industrial melhorou a qualidade de vida nas cidades e desencadeou o êxodo rural. A vida no campo passou a ser vista como uma imagem decadente e o homem do campo passou a ser símbolo do atraso, da pobreza, da ignorância.

Com o advento do café, a partir de 1870, e com a vinda dos imigrantes italianos (que muito contribuíram para esse sucesso econômico), um forte sentimento nacionalista emergiu e a imagem do homem do campo começou a ser resgatada. O caipira passa a aparecer como personagem principal das narrativas literárias. Retoma-se os valores da terra e abre-se novamente o espaço ao jeito caipira de ser.

Nossas crianças podem perceber essas características nos romances de escritores brasileiros da época, como Bernardo Guimarães, por exemplo.

AFINAL, O QUE É SER CAIPIRA?

Os próprios dicionários, muitas vezes, incorporam os valores sociais que inserem novos significados às palavras. É preciso estar atento para identificar as conceituações preconceituosas apresentadas em alguns "pais dos sábios".

Caipira é o "habitante do campo ou da roça, próprio do mato". "Matuto". "Sertanejo". Mas há também outros significados: "pessoa tímida, acanhada, desconfiada"; ou "sujeito ignorante e ingênuo".
Convém lembrar que a ignorância é: "Condição de quem não é instruído; falta de saber, ausência de conhecimentos; estado de quem ignora ou desconhece alguma coisa, não tem conhecimento dela."

Quando um dicionário explica que "caipira é o habitante da roça, especialmente os de pouca instrução..." (grifo nosso), cuidado! A incorporação desse significado pode estar refletindo e reproduzindo estigmas!

Vale a pena enriquecer esta reflexão com o poema "Resposta do Jeca Tatu", de Catullo da Paixão Cearense.

A vestimenta do caipira é outro assunto que precisa ser desmistificado: o homem do campo veste a sua melhor roupa para ir à festa. Os remendos são feitos na roupa usada para o trabalho duro no campo, onde muitas vezes o tecido se rasga e é preciso remendar, cerzir. É claro que, antigamente, não se comprava roupas com a mesma facilidade que se compra hoje em dia. Era mais difícil ir à cidade. O dinheiro da colheira vinha uma ou duas vezes por ano, quando a safra não se perdia pela estiagem, ou pelo excesso de chuva ou ainda por pragas da lavoura.

Os tecidos vinham em fardos, muitas vezes comprados de viajantes, os chamados "mascates", e com esse mesmo tecido se confeccionava roupas para toda a família. É muito comum encontrarmos em fotografias antigas todos os filhos de um casal com roupas de um mesmo tecido (eis aqui uma oportunidade para o professor de História desenvolver alguns temas, pedindo para que os alunos tragam fotografias antigas da família).

Um traje de festa era feito especificamente para festa e era repetido muitas vezes, deveria durar muito tempo e passava de irmão para irmão. As crianças cresciam, os adultos engordavam e aquele traje ia ficando curto, apertado... esta é a característica do traje caipira de festa.

O chapéu de palha servia para o trabalho na roça. O chapéu de feltro ou Panamá era usado para ir à missa, para o passeio. Quem se lembra do pai ou do avô chegando em um ambiente e permanecendo de chapéu? Nunca! Era sinal de respeito retirar o chapéu ao chegar e ao cumprimentar as pessoas. Portanto, na festa, o caipira usa o chapéu no momento da quadrilha, por causa do cumprimento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário