Ao final, pretendemos que compreendam de onde parte o questionamento do título. Para começar vamos conhecer a defesa que o professor Marcelo Borba, da UNESP de Rio Claro, faz em relação à abordagem de “coletivos seres-humanos-com-mídias”.
Marcelo é professor de Matemática e, quando ensina no intuito de que o aluno compreenda e, consequentemente, aprenda, ele defende a utilização das tecnologias. Desde tecnologias não tão novas, como material dourado, o tangram, lápis e papel, até as chamadas novas tecnologias digitais que advêm dos tempos de telemática, da internet e que carregam conteúdos digitais como simuladores, softwares e calculadoras gráficas que nos permitem conversar, produzir e aprender em rede e em colaboração com outros. A tese do professor Marcelo é, em essência, a de que o conhecimento se estabelece a partir desse coletivo formado por seres humanos e tecnologias, ou seja, na escola por coletivos seres-humanos-com-mídias.
Pois bem, a questão de sermos coletivos seres-humanos-com-mídias quando aprendemos Matemática ou qualquer outra disciplina escolar tem sido muito debatida por pesquisadores das escolas e pela sociedade em geral. E, nós, como professoras e pesquisadoras, temos alguns indícios de que o pensamento se (re)organiza de uma forma diferenciada quando usamos tecnologias, as tais mídias - indícios também apontados pelo pesquisador e psicólogo Oleg K. Tikhomirov.
Podemos afirmar que o uso de mídias na escola, faz com que pensemos de forma diferente. Nosso pensamento se (re)organiza a ponto de facilitar nossa compreensão e aprendizagem sobre conceitos matemáticos, deste modo, somos coletivos seres-humanos-com-mídias. Mas, de onde parte o questionamento que abre esse texto? Será que só vemos vantagens em sermos seres-humanos-com-mídias?
O questionamento surge quando saímos da escola e observamos algumas situações do cotidiano. Situações, nas quais, nós seres-humanos-com-mídias, professores e alunos, temos a capacidade de filmar, retratar, registrar e compartilhar imagens de outras pessoas em situações de risco, perigo ou felicidade e, em muitas delas, não participamos e sequer interferimos. Situações que são registradas e publicadas nas redes sociais e, logo depois, comentadas por pessoas indignadas, transbordando ira e outras coniventes. Situações em que seres-humanos-com-mídias ressignificam os rituais dos “registros na caverna” no afã de deixar sua marca ou o seu autorretrato impresso, marcado.
Nessas situações, muitas vezes descartam o espaço de dor, de luto, de alegria, de felicidade que a situação retrata. E, então nos perguntamos, mas que humanos somos?
O questionamento indignado continua quando, em tempos de eleições, lemos e assistimos os resultados, as estatísticas das ditas tendências eleitorais e atuamos como profissionais. Representações gráficas, bem como representações audiovisuais, feitas por “seres humanos-com-mídias” que são, muitas vezes, publicadas, compartilhadas e apenas revelam o uso capcioso das “mídias”. Uso que faz com que a suposta maioria, não se pergunte sequer: o que há de “verdade na realidade?”.
E então, constatamos, a escola, a sociedade, nós “seres-humanos-com-mídias”, que ainda engatinhamos, tanto na compreensão do uso dessas mídias para promover aprendizagens, quanto para convivermos em uma sociedade em rede, com características próprias e que se estabelece ancorada em redes digitais.
Estamos imersos em um universo comunicativo e tecnológico, em que as mudanças nas relações sociais são mediadas pelas práticas midiáticas. A escola, e nos atrevemos dizer, que a sociedade em rede na qual vivemos, precisam ver além dos conteúdos para, quem sabe, podermos nos tornar “seres-humanos-com-mídias” e mais humanos.
Seres-humanos-com-mídias que consigam fazer leituras que permitam perceber o uso capcioso que alguns fazem das mídias, das tecnologias. Leituras que nos permitam compreender se essas “mídias” estão a favor ou contra seres humanos, a favor ou contra quais seres humanos.
E mais uma vez indagamos: Somos coletivos seres-humanos-com-mídias, mas que humanos?
>> Escrito por Glaucia da Silva Brito e Gílian Cristina Barros. Glaucia é professora do Departamento de Comunicação Social e dos Programas de pós-graduação em Comunicação (PPGCOM) e Educação (PPGE) da Universidade Federal do Paraná – UFPR, pesquisadora em Tecnologias de Informação e Comunicação na Educação. Gilian é professora da Rede Pública do Estado do Paraná, também pesquisadora em Tenologias na Educação e doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPR. As profissionais colaboram voluntariamente com o Instituto GRPCOM no blog Educação e Mídia.
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